Cristianismo Esotérico

O cristianismo esotérico é o conjunto de ensinamentos conhecidos como a parte mais profundamente mística do cristianismo. É ensinado em escolas de mistérios e é, por sua natureza, um segmento minoritário, não se dirigindo às massas e nem fazendo propaganda de suas doutrinas. A este ramo pertencem o gnosticismo, o martinismo e algumas linhagens do rosacrucianismo, para citar as tradições de maior destaque.

Historicamente, a tradição cristã esotérica derivou-se dos ensinamentos da ordem dos Essênios, na Palestina. Esta ordem, extremamente discreta, sequer é mencionada nos Evangelhos, pois evitavam qualquer referência aos seus métodos de estudo e devoção. Jesus teria sido iniciado nessa ordem e alcançado um elevadíssimo grau de desenvolvimento espiritual. É possível que sua educação tenha sido conduzida pelos Essênios Nazarenos de Monte Carmelo, na Galileia  até cerca de trina anos de idade, quando, devidamente preparado, começou Seu ministério.

As bases do cristianismo esotérico se diferenciam dentro da comunidade cristã especialmente pelo fato de a reencarnação e o evolucionismo constituírem seus pontos-chave. Em semelhança com as demais vertentes cristãs, a Bíblia e os Evangelhos são fontes de autoridade dos mistérios de Deus, mas a Bíblia não é considerada infalível e nem deve ser interpretada de forma literal. Outras escrituras que não foram incluídas na Bíblia também são amplamente consideradas, como os evangelhos apócrifos. Cristo é o líder da humanidade, e como Deus, é uma centelha dentro de cada forma vivente (o chamado "Cristo Interno"). No cristianismo esotérico não há a idéia de "céu" ou "inferno", a não ser de maneira simbólica. Cada ser humano é responsável por suas ações - boas ou más - e colhe os frutos destas ações, ao longo de suas vidas. O processo de reencarnação é a oportunidade que todos têm para se aperfeiçoar até conquistar a sua salvação. Neste aspecto, a doutrina cristã esotérica aproxima-se das filosofias orientais e seu conceito de karma e busca da iluminação.

As instruções das escolas cristãs esotéricas não são dadas em igrejas. Também não há padres, pastores ou outro tipo de hierarquia ou sacramentos. A educação é ministrada através de instrutores, que em um devido tempo, e de acordo com a evolução pessoal do discípulo, o conduzem à iniciações, que também não é um processo físico, e sim espiritual e interior. Há iniciações menores e iniciações maiores. Estas últimas são as mais difíceis de serem alcançadas, exigindo grande dedicação e auto-conhecimento, e dotam os iniciados de grandes poderes mentais e espirituais. Porém, nem todas as iniciações acontecem em uma mesma encarnação. Muitas etapas levam vários ciclos de nascimento, morte e renascimento para serem completadas e se manifestarem completamente.

Não há proselitismo religioso dentro do cristianismo esotérico. As escolas ensinam que todas as religiões são provenientes de Deus, que as teria apresentado conforme as necessidades espirituais e o nível de evolução de cada povo. Também não existem impedimentos àqueles que desejarem estudar sua doutrina, desde que o façam por livre e espontânea vontade. Não há propaganda, nem assédio a novos estudantes. Ao adentrar uma escola, não há juramentos especiais e todos podem continuar livremente a manter contato com suas religiões e/ou práticas espirituais de origem.

O primeiro registro no ocidente do renascimento das doutrinas cristãs esotéricas foi a obra profundamente mística A Divina Comédia. A partir daí, a filosofia Rosacruz, uma das molas mestras desse ressurgimento, mostrou-se ao mundo, inclusive retomando as antigas práticas de iniciações nos Mistérios. Em seu manifesto Confessio Fraternitatis (1615), afirma: "nós reconhecemo-nos verdadeiramente e sinceramente professar Cristo (...) viciamo-nos na verdadeira Filosofia, levamos uma vida Cristã".

O conjunto filosófico da doutrina - a teosofia cristã clássica - ganharia força através de escritos de filósofos como Jacob Boehme e Robert Fludd, além de alquimistas influenciados pelos escritos herméticos (mantidos em linguagem simbólica, para evitar as perseguições da Igreja Católica, e com chaves de interpretação repassadas apenas aos iniciados). Emanuel Swedenborg teve seus ensinamentos sob a perspectiva cristã esotérica seguidos pela Swedenborgian Church of North America, e o Martinismo surge, a partir das idéias de Louis-Claude de St. Martin, Martines de Pasqually e Jean-Baptist Willermoz. O Martinismo, enquanto tradição iniciática, mantém-se até hoje, ainda que sob diferentes manifestações, derivadas das diferentes perspectivas desses três filósofos, assim como a filosofia Rosacruz agregou outras influências e tradições em si mesma, dando origem a diferentes linhagens. (1) (2) (3) (4) (5) (6) (etc). Além destas escolas de mistérios, instituições como a Igreja Católica Liberal, apesar de manter hierarquia, sacramentos e rituais derivados da Igreja Católica Apostólica Romana, abordam aspectos cristãos esotéricos em seus ensinamentos.

No século XX, filósofos como H. Spencer Lewis, Rudolf Steiner, Max Heindel, Annie Besant, Geoffrey Hodson e Raul Branco, entre outros, nos deixaram obras abrangentes e esclarecedoras sobre os ensinamentos e prática da doutrina cristã esotérica. Mais recentemente, pensadores têm dado continuidade nos estudos nessa área, e alguns ensaios relevantes têm sido produzidos. (a) (b) (c) (d) (etc).

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